Sábado, 28 de Setembro de 2024 17:34
Amazonas SECA

Ribeirinhos do Amazonas sofrem com a falta de água tratada

esquisa aponta que, com o avanço da estiagem, grande parte da população ribeirinha esté sob risco de consumir água imprópria para o consumo

05/08/2024 12h01 Atualizada há 2 meses
Por: Redação Fonte: A CRITICA
Ribeirinhos do Amazonas sofrem com a falta de água tratada

O uso de técnicas caseiras para filtrar a água torna-se uma alternativa para comunidades de áreas ribeirinhas diante da seca que atinge o Amazonas. Segundo as estimativas dos órgãos de controle, neste ano, a seca no estado tende a ser tão ou mais intensa que a de 2023.

Com falta de água potável, muitas pessoas recorrem à água de rios quase parados, ou poços simples, chamados de “cacimbas”, ou, mesmo, à água de chuvas intermitentes, que podem estar contaminadas. 

 

É o que afirma o artigo de cientistas do Instituto Mamirauá, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), publicado no periódico “Frontiers in Water” no dia 25 julho.

A pesquisa avaliou tratamentos tradicionais para água da chuva e dos rios por ribeirinhos que vivem nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá e Amanã, no Amazonas. Esta população não conta com abastecimento público de água potável, e por isso recorre a tratamentos caseiros para consumir a água do rio ou da chuva.

 

 

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Método problemático

Em entrevista à reportagem de A CRÍTICA, o pesquisador e um dos autores do estudo, Leonardo Capeleto, disse que o método mais potencialmente problemático usado pelas comunidades é a combinação de técnicas de sedimentação – em que a água é deixada em repouso para decantar – e de filtragem com panos comuns, que não retêm adequadamente a sujeira. 

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Ele pode, inclusive, contribuir para a proliferação de microrganismos nocivos à saúde quando a água entra em contato com objetos que não estão suficientemente limpos.

“A maior parte das residências possuem reservatórios (como caixas d'água) relativamente pequenos para um estoque suficiente em períodos de estiagem. Em metade das casas este volume acumulado é menor que 500 litros, para famílias com uma média de 5 a 6 pessoas. Isso desafia a gestão da água nas casas. Em comunidades com cacimbas, de água subterrânea, o nível das águas pode baixar junto com o nível dos rios - especialmente quando próximas destes. E poços mais profundos são desafiadores sem os equipamentos adequados”, destacou Capeleto.

Comunidades atendidas

A equipe de pesquisa acompanhou o tratamento de água em 18 residências de três comunidades ribeirinhas das reservas Mamirauá e Amanã. Os pesquisadores avaliaram a efetividade das técnicas de sedimentação; de filtragem em pano; e de cloração, na qual o cloro age como desinfetante. 

Eles examinaram diferentes combinações dessas técnicas e usaram a aplicação de produto comercial que elimina impurezas da água como referência para comparações.

Os cientistas analisaram as amostras antes e depois dos processos considerando a cor e turbidez da água, os níveis de cloro livre e a presença de coliformes, mais especificamente, da Escherichia coli. 

 

 

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Essa bactéria fecal ocorre naturalmente no organismo de humanos e de outros animais, então sua presença na água de consumo indica que não houve tratamento adequado. A turbidez da água, por sua vez, funciona como escudo que protege os microrganismos na desinfecção e reduz a eficiência do cloro.

Consequências

Maria Cecília Gomes, pesquisadora do Instituto Mamirauá e primeira autora do artigo, apontou que caso não haja uma intervenção neste consumo impróprio de água pode levar a várias consequências a longo prazo que vão além das doenças de veiculação hídrica.

“Em longo prazo, o consumo de água de má qualidade leva à diversas doenças diarreicas, desnutrição, dificuldades de crescimento e aprendizagem, entre outras consequências. No artigo, alertamos também para a importância do olhar da saúde pública e da abordagem da Saúde Única. Em territórios tão importantes, como as áreas de floresta e áreas protegidas, precisamos considerar a saúde humana”, pontuou Gomes.

Alternativas

O estudo também buscou realizar treinamentos com os ribeirinhos para que eles possam consumir  água de forma limpa e sem substâncias que podem impactar a saúde humana.

“Avaliamos alternativas para melhorar esta qualidade - neste caso com o uso de filtros de vela (aqueles mesmos usados nos famosos “filtros de barro"). E num contexto maior do projeto foram instalados sistemas de abastecimento nas comunidades avaliadas. Para subsidiar o mantimento destes processos, parcerias foram feitas com o comprometimento das comunidades e das prefeituras municipais locais”, ressaltou Capeleto.

 

 

 

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 De acordo com Maria Cecília, foram realizadas orientações no formato de oficinas junto às três comunidades participantes da pesquisa, com atividades práticas de tratamento de água, a partir dos resultados da pesquisa.

“O Instituto Mamirauá já fazia esse tipo de trabalho, porém a partir do novo conhecimento trazido pela pesquisa novas informações foram incorporadas ou reforçadas, como a melhor forma de coar a água. Outra informação acrescentada, que gera muito interesse da população, é o efeito do hipoclorito na água do rio. As pessoas costumam colocar 1 gota de hipoclorito por litro de água, diretamente na água do rio, e acreditam que estão protegidas contra contaminação. Mas na pesquisa mostramos que isso não torna a água segura. Neste caso, é mais correto ferver a água que usar o hipoclorito.”

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